segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Paciente sem diagnóstico de doença pode passar por mais estresse

Fonte: Folha.com
MARIANA VERSOLATO
DE SÃO PAULO


Eles vivem tensos, com medo de uma piora repentina. Saem frustrados do médico ao ouvir: "Seus exames estão perfeitos." E esperam por um resposta, para saber o que têm e como tratar.
Não saber o diagnóstico de uma doença pode gerar mais estresse do que receber a notícia de que se tem um problema de saúde grave.
Bruno Soares mora em Curitiba; ele tem caixa de exames em casa, mas médicos não diagnosticaram seu problema.
A constatação, de um estudo da Sociedade Norte-Americana de Radiologia, é confirmada por quem vive a angústia de não ter respostas para suas dores.
Conhecer a causa dos sintomas dá conforto ao paciente, porque tira o foco da ameaça da doença, diz o psiquiatra Renério Fráguas Júnior, do HC de São Paulo. "O problema passa a ter nome e prescrição médica."
Ceane Soares, de Curitiba, espera por um "nome" há 12 anos. Seu filho, Bruno, nasceu em 1998 e teve hipoglicemia no segundo dia de vida. Aos seis meses, não ficava "durinho" e era apático, não sorria nem chorava.
Um neuropediatra constatou que ele tinha traços autistas. Meses depois, começou a ter convulsões que nenhum remédio controlava.
Bruno já recebeu os diagnósticos "mais cabeludos", diz a mãe, todos descartados.
Tanta investigação rendeu uma caixa de exames no guarda-roupa: tomografias, ressonâncias, avaliações genéticas, endoscopias.
"A gente o observa 24 horas por dia. Nunca sabemos se a medicação é a certa, se vai melhorar. Estamos andando sem saber para onde."


A sensação de estar perdido é compartilhada pelo professor J.S., 25, de São Paulo. Neste ano, ele começou a ter urticária. Foi a dermatologistas, alergistas, fez exames e foi internado com dores e inchaço no rosto e no corpo.
Em 45 dias, gastou quase R$ 1.000 em remédios, trocados a cada nova consulta.
Os médicos cogitaram imunidade baixa, estresse, sífilis e Aids. Exames para os dois últimos deram negativo.
J.S. também tem convulsões. Foi a neurologistas e cada um fez um diagnóstico. "Não saber o que acontece no próprio corpo assusta."
COMUNICAÇÃO
Infelizmente, é comum que urticárias fiquem sem solução, diz Ana Paula Castro, presidente da Associação Brasileira de Alergia e Imunopatologia de SP.
Exames de sangue detectam substâncias que causam alergia. Mas não há testes para várias delas, como remédios, corantes e conservantes. O diagnóstico é limitado.

Em casos sem solução, médicos e pacientes concordam: a ansiedade é pior quando a comunicação entre as duas partes é falha.
Profissionais que prescrevem drogas e exames sem explicar por que geram desconfiança nos pacientes.
A aposentada Maria Amália Moraes, 57, que passou quase a vida toda acordando com dores nos olhos e nas têmporas, reclama que sua relação com os médicos foi sempre superficial.
Quatro vezes ao ano, tomava antibióticos para uma suposta sinusite, mas achava que o problema tinha origem dentária. "Já gastei o valor de um carro na minha boca."
Foi uma dentista que acertou o que ela tinha: distúrbio temporomandibular (DTM), que a fazia apertar os dentes durante o sono. A solução é uma placa usada à noite. A aposentada criou um blog para ajudar quem tem o problema.
Maria Amália diz que torcia para que os exames achassem o problema. Quando isso não acontecia, saía chorando do consultório. "Ficava desiludida. Ao mesmo tempo, agradecia a Deus por não ter nada grave. Achavam que eu inventava doenças, ninguém acreditava nas dores."

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