sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

O especialista em Alergia e Imunologia Clínica

O especialista em Alergia e Imunologia Clínica e os
Serviços Brasileiros de Capacitação na Especialidade




Dirceu Solé1
Emanuel S Cavalcanti Sarinho2

Nelson A Rosário3

Grupo de Assessoria em Ensino e Credenciamento de Servi ços ASBAI4
1-Professor Titular da Disciplina de Alergia, Imunologia Clínica e Reumatologia, Departamento de Pediatria, Universidade Federal de São Paulo. Presidente da Associação Brasileira de Alergia e Imunopatologia (ASBAI) e Presidente da Sociedade Latino Americana de Alergia, Asma e Imunologia. 2 – Professor Adjunto do Departamento de Pediatria da Universidade Federal de Pernambuco, Presidente da ASBAI - Regional Pernambuco. 3 – Professor Titular do Departamento de Pediatria da Universidade Federal do Paraná, Diretor Científico da ASBAI.4 – Grupo de Assessoria em Ensino e Credenciamento em Serviços da ASBAI: Maria de Fátima Marcelos Fernandes, Al ejandro Luquetti Ostermayer, Cristina Miuki Abe Jacob, Fátima Rodrigues Fernandes, Glaucus de Oliveira Andrade (in memmoriam), Luiza Karla de Paula Arruda, Luis Felipe Chiaverini Ensina.


Introdução

A capacitação e a formação do especialista em Alergia e Imunologia Clínica são duas das principais atribuições dos serviços brasileiros de especialidade, na sua maioria ligados a estrutura acadêmica. Nos últimos anos, a procura pela especialização em Alergologia e Imunologia Clínica por profissionais médicos tem se mantido estável, embora em alguns locais do país haja uma demanda reprimida.

Em publicação recente, a World Allergy Organization (WAO) por meio do seu Conselho de Treinamento e Especialização definiu o alergista como sendo “o médico que após uma formação básica em medicina interna e/ou pediatria concluiu com êxito um período de treinamento especializado em alergia e imunologia”. A WAO enfatiza que o alergista é também especialista em Imunologia, já que apresenta aquisição de conhecimentos desta especiadade, condição esta indispensável para o conhecimento das doenças alérgicas.
Segundo o mesmo documento, o grupo de experts em educação aponta ser de dois a tr&ecir c;s anos o tempo de capacitação intensa e específica necessária para qualificar-se de modo apropriado o especialista em Alergia e Imunologia Clínica. Findo esse período de capacitação, a depender dos sistemas de credenciamento, variáveis entre as diferentes nações, a conclusão será reconhecida por um Certificado de Treinamento Especializado em Alergia, em Alergia e Imunologia ou em Alergia e Imunologia Clínica, outorgado por uma comissão diretiva. Em alguns países, isso acompanha a conclusão bem-sucedida por um exame de qualificação e, em outros, as competências apresentadas por um supervisor de treinamento.
Esta pesquisa foi realizada com o objetivo de conhecermos os serviços do país formadores na especialidade de alergia e imunologia clínica, que se inscreveram na ASBAI com o intuito de futuro credenciamento por esta associação.

Participaram dessa avaliação 17 centros previamente registrados na ASBAI e envolvidos no treinamento e formação de especialistas em Alergia e Imunologia Clínica e com carga horária semelhante à dos programas de residência médica em Alergia e Imunologia Clínica, ou seja 2440 horas anuais, de todo o país e na sua maioria ligados a estrutura universitária. Constou desse inquérito a busca sobre o perfil do serviço, quais seriam os requisitos básicos para admissão, os critérios de seleção, o tipo de treinamento, o tempo ideal de treinamento, bem como o modo de c ertificação.
Entre os centros envolvidos, sete têm residência Médica em Alergia e Imunologia Clínica reconhecida pelo Ministério de Educação e Cultura e com bolsa. A residência em Alergia e Imunologia Clínica tem duração de dois anos e exige como pré-requisito dois anos de formação em Clínica Médica (residência ou estágio). A seleção desses candidatos é feita via critérios seletivos dos exames de residência em cada um desses programas. Além disso, em alguns serviços os candidatos são avaliados por entrevista e análise de curriculum vitae (CV). Dois desses serviços e outros três dispõem de estágio voluntário na mesma á ;rea tendo como requisitos mínimos ter residência médica completa em Pediatria ou Clínica Médica. Neles a seleção dos candidatos é feita por prova escrita, entrevista e avaliação de CV. Apenas três desses serviços acreditam que o aluno poderia ter acesso direto à especilaidade, dispensando o treinamento em área clínica: pediátrica ou clínica geral. Segundo esses serviços seria uma maneira de aumentar e facilitar o acesso à especialidade.
Por outro lado, apesar de os residentes de Alergia e Imunologia Clínica terem garantido o título de especialista conferido pelo Conselho Federal de Medicina, todos os candidates oriundos desses centros têm se submetido ao exame de avaliação para obtenç&ati lde;o do Título de Especialista em Alergia e Imunologia Clínica pela ASBAI em convênio com a Associação Médica Brasileira (AMB).
Dos centros participantes, nove deles oferecem capacitação para profissionais com formação básica em Pediatria, sendo de modo exclusivo em sete. Para esses centros o requisito essencial é ter treinamento básico, durante dois anos em Pediatria, sobretudo os que oferecem a capacitação em Alergia e Imunologia Clínica como optativo para o terceiro ano da residência de Pediatria (8/9). Entretanto, todos esses serviços reconhecem a necessidade de pelo menos dois anos de capacitação na especialidade para que o especializando tenha sua formação concluída e possa submeter-se à a valiação pela Prova de Título de Especialista conferido pela ASBAI em convênio com a AMB. Assim, esses serviços oferecem aos seus especializandos um segundo ano de capacitação na área e em 8/9 deles, os especializandos são incentivados a realizarem a Prova de Título de Especialista realizada pela ASBAI e AMB. Para todos os responsáveis por esses serviços, o acesso direto à especialidade não é recomendado.
É interessante comentar que anualmente submetem-se ao exame para obtenção do Título de Especialista em Alergia e Imunologia Clínica número significativo de profissionais médicos, na sua maioria oriundos desses serviços de formação na especialidade e temos observado um índice de ap rovação satisfatório quando comparado aos obtidos por outras sociedades de especialidade médica. Por exemplo, no ano de 2009, entre os profissionais identificados como tendo formação prévia em Clínica Médica ou Pediatria, 72 candidatos realizaram o exame e 40 deles foram aprovados (55,6% de aprovação), sendo que foram 56,5% dos com formação em Pediatria e 50,0% dos oriundos da Clínica Médica. Esses mesmos índices repetiram no ano de 2010. Estas cifras sugerem que a formação de clínicos e pediatras por esses serviços de especialização está sendo efetiva e que a avaliação dos candidatos no concurso para título de especialista é imparcial e sem distorções de conteúdo o que permite habilitar sem discriminar o futuro alergista independente de sua forma&cced il;ão em área básica.

A capacitação de dois anos em Clínica Médica ou Pediatria é essencial, pois permite ao futuro especialista formação mais completa e possibilita integração cognitiva com a especialidade que virá exercer já que a mesma é transdisciplinar e abrangente em todos os órgãos e sistemas.

Como parte da capacitação do especialista em Alergia e Imunologia clínica, recomenda-se que o especialista tenha ampla gama de especialização clínica e diagnóstica e um sólido conhecimento de base, que abranja:
Células efetoras envolvidas na doença alérgica (células-tronco, linfócitos, mastócitos, basófilos, eosinófilos, neutrófilos, monócitos, macrófagos, células dendríticas);
Moléculas envolvidas na resposta imunológica (tanto inata, quanto adquirida), inclusive mediadores químicos, imunoglobulinas, anticorpos, complemento, citocinas, que incluem interleucinas; quimocinas e seus receptores, e antígeno para leucócito humano/antígenos para o complexo de histocompatibilidade principal (HLA/MHC);

Principais reações de hipersensibilidade;
Interações célula-célula;

Desenvolvimento e ontogenia do sistema imunológico
Testes diagnósticos científicos in vitro para alergia e sua seleção e interpretação, inclusive ensaios radioalergo-absorventes (CAP-RAST®); ensaio imuno-absorvente ligado à enzima (ELISA); Western blotting; testes para marcadores inflamatórios (proteína catiônica eosinofílica [ECP] e triptase); testes de estimulação com antígeno celular (CAST®) e ensaio de liberação de histamina;

Epidemiologia das doenças alérgicas e conhecimento especializado dos alérgenos locais e regionais, inclusive aeroalérgenos, fármacos, venenos, alérgenos ocupacionais e alérgenos alimentares;

Afecções que podem mimetizar ou se sobrepor à doença alérgica;

Manifestações das doenças alérgicas ou imunológicas;

Rinoconjuntivite

Sinusite

Otite

Asma

Tosse

Bronquite

Pneumonite por hipersensibilidade

Alveolite

Dermatite atópica/eczema

Dermatite de contato

Urticária e angioedema

Alergia a medicamentos

Alergia alimentar

Hipersensibilidade a picadas de insetos

Reações gastrintestinais resultantes de alergia

Choque anafilático

Imunodeficiências

Doenças alérgicas ocupacionais

Fatores de risco de progressão de doenças alérgicas

Outras reações específicas de órgãos resultantes de alergia



Ao finalizar o treinamento, espera-se do alergista treinado a execução das seguintes competências:

História de alergia e exame físico,

Realizar e interpreter testes cutâneos,

Solicitação e interpretação de exames de laboratório relacionados com alergia e imunologia,

Testes de provocação para doença alérgica e imunológica,

Análise e aconselhamento relativo a alérgenos e irritantes ambientais ou transportados pelo ar,

Análise e aconselhamento referente a alérgenos e irritantes ingeridos,

Realização e avaliação de testes de função pulmonar e testes de marcadores inflamatórios,

Realização e avaliação de testes de função nasal; exame do nariz e da garganta por rinoscopia com fibra óptica e endoscopia nasal,

Imunoterapia específica contra alérgenos e venenos,

Tratamento farmacológico de transtornos alérgicos e doenças relacionadas,

Quando necessário realizar diagnósticos alternativos de investigação,

Estratégias de modificação ambiental para reduzir a exposição a alérgenos,

Terapia imunomoduladora

Terapia de reposição imunológica

Dessensibilização a medicamentos,

Avaliação e tratamento de competência alérgica e imunológica,

Prevenção primária, secundária e terciária de doenças alérgicas, e

Educação de pacientes, cuidadores e médic os de atendimento primário.

Segundo a WAO, os requisitos únicos de treinamento de um alergista estão detalhados em publicação específica (2), assim como na normatização da Academia Americana de Alergia, Asma e Imunologia (3), e da União Europeia (4,5).


Referências

1 - Del Giacco S, Rosenwasser LJ, Crisci CD, Frew AJ, Kaliner MA, Lee BW, Guanghui L, Maspero J, Moon H-B, Takemasa N, Potter PC, Singh AB, Valovirta E, Vervloet D, Warner JO. What is an Allergist? Reconciled Document Incorporating Member Society Comments, September 3, 2007. A position statement of the WAO Specialty and Training Council. WAO J 2008;19-20.



2 - Kaliner MA, Del Giacco S, Crisci CD, Frew AJ, Liu GH, Maspero J, et al. Requirements for physician training in allergy: Key clinical competencies appropriate for the care of patients with allergic or immunologic diseases — a provisional position statement of the World Allergy Organization. Allergy Clin Immunol Int J World Allergy Org 2006;18:92-7.



3 - American Academy of Allergy, Asthma and Immunology. Consultation and referral guidelines citing the evidence: How the allergist/immunologist can help. J Allergy Clin Immunol. 2006;117:suppl 3.



4 - Malling HJ, Gayraud J, Papageorgiu-Saxoni P, Hornung B, Rosado-Pinto J, Del Giacco SG. Objectives of training and specialty training core curriculum in allergology and clinical immunology. Allergy 2004;59:579-88.



5 - European Union of Medical Specialists Allergy Training Syllabus. Allergology and Clinical Immunology Section and Board: 07.06.2003. Available at: www.worldallergy.org/allergy_certification/index.shtml

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Cientista alemã descobre gene vinculado à asma infantil

16/02/2011 - 14h50 Fonte: Folha.com



Publicidade

DA EFE



Uma pesquisadora alemã descobriu um gene que determina o risco de asma nas crianças, segundo anúncio da Comissão Europeia (órgão executivo da União Europeia) em comunicado nesta quarta-feira.



O resultado da pesquisa, realizada pela alemã Michaela Schendel, será apresentado na reunião anual da Associação Americana para o Avanço da Ciência, marcada para o próximo fim de semana em Washington.



A descoberta do gene ORMDL3, presente no cromossomo 17, pode acrescentar na evolução do conhecimento que se tem sobre a doença e impulsionar novos tratamentos.



A cientista responsável pela pesquisa, de 33 anos, começou a trabalhar na universidade de Munique e hoje colabora com o professor Michael Kabesch, especialista em alergia genética na Escola Superior de Medicina de Hannover.



"Temos uma primeira prova de vínculo casual entre a presença desse gene no cromossomo 17 e a aparição da asma, doença que pode ser tratada, mas que ainda não pode ser curada", explicou a pesquisadora em comunicado.



Schedel foi beneficiada por uma das bolsas de estudos Marie Curie, com as quais a União Europeia fomenta a pesquisa, e fez parte da equipe de 220 pesquisadores que participaram desde 2008 de um programa de intercâmbio de conhecimento entre a União Europeia e Estados Unidos.



A asma afeta 100 milhões de pessoas na Europa e cerca de 300 milhões no mundo.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Paciente sem diagnóstico de doença pode passar por mais estresse

Fonte: Folha.com
MARIANA VERSOLATO
DE SÃO PAULO


Eles vivem tensos, com medo de uma piora repentina. Saem frustrados do médico ao ouvir: "Seus exames estão perfeitos." E esperam por um resposta, para saber o que têm e como tratar.
Não saber o diagnóstico de uma doença pode gerar mais estresse do que receber a notícia de que se tem um problema de saúde grave.
Bruno Soares mora em Curitiba; ele tem caixa de exames em casa, mas médicos não diagnosticaram seu problema.
A constatação, de um estudo da Sociedade Norte-Americana de Radiologia, é confirmada por quem vive a angústia de não ter respostas para suas dores.
Conhecer a causa dos sintomas dá conforto ao paciente, porque tira o foco da ameaça da doença, diz o psiquiatra Renério Fráguas Júnior, do HC de São Paulo. "O problema passa a ter nome e prescrição médica."
Ceane Soares, de Curitiba, espera por um "nome" há 12 anos. Seu filho, Bruno, nasceu em 1998 e teve hipoglicemia no segundo dia de vida. Aos seis meses, não ficava "durinho" e era apático, não sorria nem chorava.
Um neuropediatra constatou que ele tinha traços autistas. Meses depois, começou a ter convulsões que nenhum remédio controlava.
Bruno já recebeu os diagnósticos "mais cabeludos", diz a mãe, todos descartados.
Tanta investigação rendeu uma caixa de exames no guarda-roupa: tomografias, ressonâncias, avaliações genéticas, endoscopias.
"A gente o observa 24 horas por dia. Nunca sabemos se a medicação é a certa, se vai melhorar. Estamos andando sem saber para onde."


A sensação de estar perdido é compartilhada pelo professor J.S., 25, de São Paulo. Neste ano, ele começou a ter urticária. Foi a dermatologistas, alergistas, fez exames e foi internado com dores e inchaço no rosto e no corpo.
Em 45 dias, gastou quase R$ 1.000 em remédios, trocados a cada nova consulta.
Os médicos cogitaram imunidade baixa, estresse, sífilis e Aids. Exames para os dois últimos deram negativo.
J.S. também tem convulsões. Foi a neurologistas e cada um fez um diagnóstico. "Não saber o que acontece no próprio corpo assusta."
COMUNICAÇÃO
Infelizmente, é comum que urticárias fiquem sem solução, diz Ana Paula Castro, presidente da Associação Brasileira de Alergia e Imunopatologia de SP.
Exames de sangue detectam substâncias que causam alergia. Mas não há testes para várias delas, como remédios, corantes e conservantes. O diagnóstico é limitado.

Em casos sem solução, médicos e pacientes concordam: a ansiedade é pior quando a comunicação entre as duas partes é falha.
Profissionais que prescrevem drogas e exames sem explicar por que geram desconfiança nos pacientes.
A aposentada Maria Amália Moraes, 57, que passou quase a vida toda acordando com dores nos olhos e nas têmporas, reclama que sua relação com os médicos foi sempre superficial.
Quatro vezes ao ano, tomava antibióticos para uma suposta sinusite, mas achava que o problema tinha origem dentária. "Já gastei o valor de um carro na minha boca."
Foi uma dentista que acertou o que ela tinha: distúrbio temporomandibular (DTM), que a fazia apertar os dentes durante o sono. A solução é uma placa usada à noite. A aposentada criou um blog para ajudar quem tem o problema.
Maria Amália diz que torcia para que os exames achassem o problema. Quando isso não acontecia, saía chorando do consultório. "Ficava desiludida. Ao mesmo tempo, agradecia a Deus por não ter nada grave. Achavam que eu inventava doenças, ninguém acreditava nas dores."

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Veneno de peixe vira cura para quem sofre de asma

Saúde - Brasil


19/01/2011 - 08:00:00 - Da Redação


Quinze milhões de pessoas sofrem de asma no Brasil e a cura está no veneno de um peixe típico da região Nordeste.


É o que revelou uma pesquisa feita no Instituto Butantan, em São Paulo. O veneno do animal conhecido como niquim ou peixe-escorpião, é bastante agressivo quando injetado por meio de ferroadas no corpo humano.

Os acidentes ocorrem com banhistas e pescadores que confundem o peixe com uma pedra.

Pisar nesse peixe e receber uma dose do veneno causa muita dor, inflamação e leva muito tempo para cicatrizar.

Mas uma proteína chamada nattectina, encontrada no veneno, tem ação anti-inflamatória nos pulmões e o melhor é que não tem o efeito colateral dos corticóides.


A equipe do Butantan trabalha em parceria com um laboratório comercial para colocar o novo remédio rapidamente no mercado.

Porém, ainda deve demorar até três anos para isso. Mais testes de laboratório precisam ser feitos.